As energias de Lèɠɓá e de Gbèsèn abrem o mês de janeiro
Foto: Lèɠɓá e Gbèsèn – arte Pai Paulo de Oxalá
Voduns são fundamentais nos rituais Jeje
No clã dos Voduns, dois nomes se destacam na cultura Fon, oriunda do antigo Dahomé, e nos rituais Jeje aqui no Brasil: o Vòdʊ́ɲ Lèɠɓá e o Vòdʊ́ɲ Gbèsèn. Cada um carrega consigo não apenas poder, mas uma conexão profunda com o cosmos, representando energias marcantes dentro das cerimônias que movimentam tradição e espiritualidade.
Lèɠɓá, o guardião e mensageiro, desempenha um papel fundamental entre os homens e os Voduns, sendo reconhecido como o responsável por manter a comunicação entre os mundos. Em terras Maɦiɲ, ele é iniciado, e seu filho é chamado de Lèɠɓásí, perpetuando a linhagem de sabedoria e proteção. No Brasil, ele não é iniciado; portanto, não tem Vòdʊ́ɲ-sí (filho de divindade, Vòdʊ́ɲ). Lèɠɓá é reverenciado nas segundas-feiras, antecedendo os cultos dos Voduns Ǎɲaɲbìƙó, Sàƙƥàtà e Gbèsèn. Ele se apresenta de forma vibrante, com roupas de múltiplas cores, sendo o vermelho uma de suas preferidas. O Zandró, ritual vital para a preparação das festas, é o momento em que Lèɠɓá se torna o guardião absoluto, garantindo que as celebrações transcorram em segurança e harmonia. Suas oferendas, como a carne de cabrito no dendê (Ɠɓɔ̀ asù amǐvòvò), são um tributo à sua força e presença protetora.
Por outro lado, Gbèsèn, a serpente sagrada, o Senhor da Nação Jeje, é o responsável pela força cósmica que mantém o nosso planeta em movimento no espaço. Representado pela imagem de uma cobra engolindo a própria cauda, ele simboliza o ciclo eterno da vida e do movimento. Em janeiro e agosto, os terreiros Jeje reverenciam Gbèsèn, que também é conhecido por seu nome ancestral de Đangbé, a serpente da vida. Sua presença é associada ao arco-íris, que transcende como um símbolo de equilíbrio, renovação e da conexão entre o céu e a terra. Sua origem remonta ao antigo Dahomé, mas em terras yorubás foi transformado em Òṣùmàrè, o arco-íris sagrado, perpetuando a sua adoração nas diversas culturas que abraçam essas divindades.
Gbèsèn é um dos filhos de AíɗǎɲꞪwɛ́ɗó, a serpente sagrada que impulsiona o planeta. Sua essência é a força vital que move a criação, e sua conexão com a natureza é inegável, sendo a palmeira sua árvore sagrada, simbolizando estabilidade e longevidade.
As invocações a esses Voduns ecoam poderosas: "Mìƙƥá Vòɗʊ́ɲ Lɛ̀ɠɓá Alìɠɓó!" É o chamado de reverência ao Senhor dos Caminhos, enquanto "Míkpá Aɦò Bòbòy Ʋòɖʊ́ɲ Gbèsèn!" Reverencia o Senhor das Águas Supremas.
Entre as cerimônias e rituais, a energia de Lèɠɓá e Gbèsèn circula, tecendo a conexão entre os mundos dos homens e dos Voduns, garantindo o equilíbrio e o movimento incessante do universo. O culto a esses Voduns é um lembrete de que, no mistério das serpentes, no arco-íris e nos caminhos multicoloridos da vida, a sabedoria ancestral ainda rege as forças da terra, da água e do ar.
Mìƙpá Ʋòɖʊ́ɲ sí màhùn ɖo ɖɔ̀! (Salve os Voduns que movimentam o mundo!)
Àcé Ɠoɲzóɲ! (Que a força esteja com você!)
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